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Como a música instrumental pode contribuir com a mudança na trajetória de crianças em vulnerabilidade



Eu nunca vi nada mais poderoso do que a música para mudar a trajetória de crianças em vulnerabilidade. A música abre caminhos inimagináveis, recupera a auto estima, ajuda nos processos cognitivos aumentando a concentração o foco e a memória, mas acho que o mais importante é transformar os caminhos dessas crianças. Ao longo do meu cominho como educadora de violino vi vidas completamente transformadas pela música. Crianças com problemas de comportamento em casa e na escola, sem nenhuma perspectiva de um futuro promissor serem completamente transformadas e virem seus caminhos se abrirem profissionalmente depois do envolvimento com a música instrumental.


Trabalhei por mais de 25 anos em projetos sociais que efetivamente transformavam vidas e cheguei a um método de atuação onde essa mudança fosse mais rápida e mais efetiva. Esse método ressalta alguns pontos fundamentais:


I – Projeto social não é um lugar só para entretenimento, só para tirar as crianças do espaço de vulnerabilidade. Se estamos com as crianças no nosso espaço porque não proporcionar um lugar onde elas aprendam com alegria, brincando com direcionamento alguma coisa que poderá modificar o seu futuro? Sinceramente não acredito em projetos onde às crianças só vão para brincar. Eles funcionam? Lógico que sim! O brincar é terapêutico, elabora conflitos emocionais, desenvolve a criatividade e fortalece a formação da personalidade, principalmente com direcionamento. Então porque não acreditar? Porque a gente pode proporcionar muito mais do que isso no mesmo tempo e no mesmo espaço então porque oferecer menos? Aprendi isso com o melhor, Dr Osvaldo Bergi. Ouvi ele sempre dizer que queria oferecer para as crianças do Instituto João XXIII, do qual era presidente e mantenedor, o melhor, porque queria que essas crianças tivessem a mesma oportunidade que as crianças privilegiadas.


II – Educadores sociais tem que ter formação na área em que atuam. Quanto mais qualificados e mais experiência tiverem melhores serão os resultados. Vi isso de perto em dois projetos em que atuei. Vi os profissionais serem substituídos por profissionais menos qualificados como medida de contenção de gastos e os resultados visivelmente despencarem. Reduzir gastos não pode afetar quem trabalha diretamente com às crianças. Tenha quantos educadores você puder pagar, não adianta ter vinte educadores sem qualificação, prefira ter cinco qualificados que com certeza seu resultado será mais efetivo.


III – O educador precisa ter um “olhar social”. O que seria esse “olhar social”? É um olhar que enxerga além do óbvio, alguém que observe e identifique violações de direito, vulnerabilidades, tristezas ocultas, carências, etc. Projeto social não é escola, educador precisa ser um professor com um olhar mais atento e que além disso saiba lidar com algumas situações ou pelo menos encaminhálas pra quem possa ajudar.


IV – O projeto precisa acolher toda e qualquer criança sem discriminar, sem selecionar. É possível transformar todas as crianças, cada uma de uma forma diferente e essa transformação começa quando a gente acredita que todos merecem uma oportunidade.


V - Todos os que trabalham no projeto precisam amar e acreditar no que fazem.

Crianças são sensíveis e sabem quando a troca é ou não verdadeira. Você precisa ser referência e exemplo para essa criança que você acolhe, ela vai se espelhar em você e querer ser como você então temos que ter responsabilidade.


Hoje, depois de tantos anos trabalhando no 3° setor consigo contar inúmeras histórias de superação, transformação e mudança. Conheci crianças e adolescentes que tinham poucas perspectivas de um futuro promissor e que hoje desfrutam de uma vida digna onde mudaram suas histórias e de suas famílias. A maior lição em todo esse tempo foi entender que cada um tem seu sonho e que isso precisa ser respeitado. O fundamental é que todos tenham a oportunidade de conhecer o mundo e a vida de forma mais ampla para que possa escolher com propriedade o seu sonho. Eu só posso escolher se eu conhecer, senão estarei limitado a escolher dentro do mundo que eu conheço. Dar oportunidade é ampliar o mundo do outro para que ele possa escolher de forma mais ampla qual é o seu sonho. Quem não sonha vive a margem, é preciso sonhar antes de realizar e todos devem ter oportunidade de sonhar e realizar.

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